sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O Corvo Dourado --- Episódio 3

A Rainha Asas de Borboleta tinha acabado de enviar a resposta a Kalemb quando ouviu um rosnado pela janela da Sala do Trono. Ela era do tamanho de um polegar, por isso não teve dificuldade em passar pela abertura. A fada viu um homem de cabelos negros, lisos e com aspecto de molhados, feições abrutalhadas, rosto meio pálido, meio moreno e armadura de cavaleiro do reino no jardim, montado em urubu do tamanho de uma casa que estava parado no ar a cinco centímetros do chão. O homem tinha um olhar vago, desfocado, mas ao mesmo tempo furioso em seus olhos negros. Ele tinha um machado, uma lança e um bastão com uma bola de ferro com espigões na ponta embainhados, mas segurava uma adaga suja de lodo entre as mãos. Asas de Borboleta ( porque era uma fada) conseguiu pressentir uma energia maquiavélica emanando dele. Perguntou:
_ Quem é o senhor ?
O cavaleiro girou a adaga entre seus dedos, e mais dois urubus, cada um com o triplo do tamanho do primeiro, chegaram voando ao jardim.
Asas de Borboleta percebeu que o cavaleiro ia mandar que a atacassem, e com um gesto de sua varinha com ponta em forma da metade das pétalas de uma orquídea, disparou um rajada de vento cor de uva contra os três urubus. Um ( um dos dois maiores) rodopiou e se dissolveu, mas os outros dois desviaram e avançaram com os bicos abertos para devorá -la. O primeiro (o menor), porém, de repente teve a cabeça decepada por quatro armas pontiagudas em forma de estrela. O último se distraiu ( o cavaleiro pulara para seu lombo quando o menor fora morto, repentinamente) e a Rainha fez a mesma coisa que havia feito com o outro. O cavaleiro saltou e correu na direção ( com a adaga em punho) das pessoas que haviam matado o urubu menor.
Eram adolescentes plebeus, isso dava para se notar pelas suas roupas gastas, pelos seus corpos castigados pela fome e pelos seus rostos juvenis. Dois meninos e duas meninas, todos montados em uma águia do tamanho de um carvalho. A menina mais alta pulou e caiu em pé quando o cavaleiro veio em sua direção, apontou o dedo médio da mão direita para ele e de lá saiu um relâmpago que se enrolou em volta de seu pescoço como se fosse uma serpente. Um dos meninos tirou um arco e uma aljava dos bolsos e disparou seis flechas. Cinco delas se alojaram no estômago do cavaleiro e uma errou o alvo e se fincou na cerca de vidro em volta do castelo. O cavaleiro berrou de dor ao mesmo tempo em que emitia algo entre um urro, um grito e um gemido de lamento por ter um terço do pescoço eletrocutado. A outra menina fez a mesma coisa que o menino do arco, mas a diferença foi que não errou nenhum tiro. E o último menino só ficou em cima da águia, com os dedos em volta de um martelo de ferreiro enfiado no fundo de seu bolso, tremendo de medo e parecendo horrorizado.
O cavaleiro atirou a adaga justamente na direção do garoto que estava parado. A águia gigante levantou voo numa velocidade estonteante e desapareceu no horizonte, enquanto o menino rodopiava e caía de cabeça no chão. O martelo se quebrou no impacto e os pedaços de ferro fizeram que escorresse muito sangue de seus dedos. A adaga se fincou na grama a trinta e sete centímetros e meio da lateral de sua perna esquerda, e o cavaleiro praguejou.
A Rainha Asas de Borboleta apontou sua varinha para a nuca dele, e mais uma uma rajada de vento cor de uva foi disparada. Não por causa do feitiço, o cavaleiro se dissolveu em uma gosma de um branco leitoso, que correu pela grama como se fosse as águas de um rio inundando o jardim, e depois se reconstituiu e reapareceu perto da adaga. Arrancou - a do chão com uma mão ao mesmo tempo em que arrancava as flechas em seu estômago com a outra. Tentou enfiar a adaga no coração do garoto com o martelo, mas errou a mira e acertou seus olhos, perfurando - os ( e então sorriu malignamente, mesmo que tivesse sido sem querer) e o deixando cego.
O cavaleiro novamente se tornou a gosma branca e depois foi levado pelo vento.

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